Como Deus age (milagrosamente) em nossas vidas? (2)
- Rodrigo Contrera
- 9 de abr. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de abr. de 2018
TERCEIRA EXPERIÊNCIA
Esta experiência ocorreu antes. Algumas semanas antes. Talvez alguns meses antes.
Eu pego meus remédios no CAPS II, na periferia de Taboão da Serra. Naquele mês, eu tinha duas receitas, para Risperidona, mas havia pegado apenas uma, já há mais ou menos um mês. Mas agora precisava demais. Tinha uma receita, que pelo que consultei vencia aquele dia. Sempre vou no último dia.
Neste caso, fui a uma farmácia, no domingo, que ficava lá embaixo, perto do centro. Fui até lá com a receita e o dinheiro contado. Mas acabou acontecendo que aquele mês tinha 31 dias. Pois bem, a farmacêutica me disse, e eu fiquei desconsolado. Ela me sugeriu ir a um UPA ali perto. Fui. Estava fechado. E ele ficava bem longe.
Na volta, eu estava me sentindo desesperado. Não sabia o que fazer. Olhei para um lado, e vi outra farmácia, mais popular. Foi então que resolvi arriscar. Foi assim que o sujeito não reparou que eram necessários 30 dias para uma receita caducar, e eu consegui o meu remédio.
Era um domingo. Fui à missa. Agradeci. Mas o fato é que sempre sinto que as missas são úteis, são engrandecedoras, são algo a quem eu preciso agradecer. A Deus, claro.
Pode-se dizer aqui que Deus tenha interferido? Dificilmente. Mas na hora, no desespero, senti que algo me puxava, me dizia, para ir àquela farmácia. Senti sim, isso, claramente.
Senti como estou sentindo o domingo acabando, agora. Hoje eu fui à missa, pela manhã. Como sempre, foi divino. Foi um encontro com ele.

QUARTA EXPERIÊNCIA
Esta quarta experiência aconteceu há vários meses. Não me lembro bem quando, nem em que mês. Nem o que estava acontecendo comigo naquele então. Sei apenas de algumas coisas. Sei que eu tinha uma conta para pagar. Que minha irmã ou minha mãe teriam depositado um dinheiro na minha conta. E que eu estava inseguro, muito inseguro. Tomava remédios, mas não me continha de inseguro.
Ocorre que naquele então, quando saí de casa, bem perto daqui, eu me
lembro de ter pensado claramente umas coisas. Que diziam respeito à minha fé. Que eram contra a minha fé. Eram pensamentos que explicitavam o que eu estava passando de forma simples e direta, sem o uso da religião, e que eu usava para decidir coisas a meu respeito.
Lembro-me de que com eles eu me sentia mais seguro. Que pensando assim eu me sentia melhor. Mas eram pensamentos de ausência de fé.
Chegando na agência, eu esperei até minha vez. Estava bastante nervoso, ainda, mas fiz tudo a contento, elas haviam depositado, e eu paguei a minha conta. Lembro-me de que com isso, com esse alívio, eu saí do terminal rumo à rua mas que alguém veio direto em minha direção.
Era uma moça morena, de uns 1,65m, de uns 35 ou 40 anos, e que vinha falar diretamente comigo, como se me conhecesse. Lembro-me bastante bem do rosto dela. Ela me abordou no meio das pessoas, enquanto outros esperavam, e ela simplesmente não estava fazendo nada na ocasião, não estava na fila.
Ela me disse, assim, sem mais nem menos: "Ele só quer saber se você acredita". Sim, foram essas, exatamente essas, as palavras. Eu me lembro de ter parado e olhado para ela com atenção para ver se estava pirando. Se era uma pirada. Mas não, ela não parecia ninguém com algum acesso de loucura. Não parecia, e não era.
Eu olhei para ela com bastante atenção, toquei seu lado direito, creio, e lhe disse, "Fique bem que eu acredito. Acredite-me, eu acredito". Olhei para ela uma última vez e fui embora. Eu senti o hálito frio do dia no rosto na hora, e não sabia bem o que pensar daquilo lá. Simplesmente fui à igreja, e lá agradeci por tudo o que me havia sido concedido.
Neste caso, teve intervenção divina, pelo que posso entender. Claro que muitos pensarão que ela, a moça, simplesmente estava tomada por uma impressão e resolveu, com base em seus valores, me dizer aquilo. Ocorre que aquele não havia sido um dia comum. Eu estava fraco na fé, e ninguém sabia disso. Nem ela.

MUITO MAIS EXPERIÊNCIAS
Passo por muitos problemas, e por muito estresse. Não posso dizer que esteja isento de ficar inventando coisas, de vez em quando. Não posso também dizer que esteja vivendo em condições normais. Minha vida anda muito complicada, e o estresse faz com que veja coisas.
Porém, nestas quatro experiências que eu narrei, narrei situações várias vezes extremas em que parecia que algo dialogava comigo. Foram situações extremas mesmo, porque se não tivesse tomado a iniciativa, e acreditado, eu provavelmente nem estaria mais morando onde estou.
Considero que Deus age de forma sutil, muitas vezes. Como que sugerindo novos caminhos, por vezes, como que nos levando a evitar outras situações, como que nos conduzindo a fazer até o fim coisas sobre as quais nem sabemos algo direito. Ou seja, é como se Deus agisse como uma intuição. Uma intuição que nos coloca em questão, que nos faz acreditar ou não, e que nos leva a optar. A ir para um ou outro lado.
Tirando a quarta experiência narrada (que ficou com fonte maior por acaso), todas as outras funcionaram mais ou menos assim. Sendo que, para que eu decidisse correto, eu precisava estar em determinada condição e poder decidir estando nela. Ou seja, não bastava eu simplesmente estar como sempre estou, sem tirar nem pôr. Era preciso que algo me motivasse a estar mais próximo dele. Não sei explicar isso direito, é claro. Mas a situação é sempre mais ou menos essa. Dispor-se a tê-lo ao nosso lado. A que ele nos ajude.
Noto também que, por muitos anos, eu não consegui nem conseguia ser ajudado por ninguém porque simplesmente havia colocado uma interface entre eu e ele. Eu simplesmente havia fechado as portas e janelas, e navegava na escuridão. Por isso, quem sabe, só consegue acessar Deus quem realmente se dispõe a isso, quem quer.
Termino este relato dizendo-lhes que para mim é bastante difícil tornar tudo isso inteiramente consciente. Simplesmente por vezes navego numa sensação de descrença, vendo tudo pelo lado de fora, e outras vezes vejo tudo de perto, como se estivesse me engolindo, e como se a isso eu não conseguisse fugir - embora não queira, porque é para meu bem.
15/04/2018
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