Há alguns meses, quiçá alguns anos, o Jan, meu vizinho aqui no prédio me levou a um culto de uma igreja presbiteriana aqui perto. Fui com ele, com o filho (a Manu estava grávida de outra criança), e assistimos ao culto. Fiquei puto com o fato de não poder comungar, embora não estivesse pronto (eu não sabia, na hora), porque lá comungam apenas pessoas da igreja, que sempre frequentam.
Pois fiquei sem ver o Jan bastante tempo. De lá para cá, eu me converti ao catolicismo, me tornei leitor lá na Igreja Santa Terezinha, e li muito, assim como escrevi. Me tornei um cara bastante ligado à religião. O Jan acompanhou isso meio de longe, mas lhe disse um dia o que acontecera. Ele achou bem legal.
Bom, aquela criança morreu, tendo caído do 19o andar, quinta passada, e a gente aqui no prédio ainda tá se recuperando. Ocorreu que ontem, quando eu ia começar a proposta para a agência de propaganda, ele me mandou uma mensagem por facebook, me convidando para descer, para orar. Eu topei na hora, achando que iria ser falado algo sobre a criança. Não sei bem por que aceitei, de bate pronto, mas foi isso que aconteceu. Desci e encontrei umas 15 pessoas, no máximo.
O local era o salão de festas adulto, bem embaixo do meu apartamento. Notei que havia várias pessoas conhecidas, mas que a maioria parecia ser de fora. Percebi que havia comida no fundo da sala.
Havia um sujeito bem ao centro do grupo que parecia dominar o ambiente. Esse sujeito era pastor, pelo que entendi, e ele puxava a noite. Falei um pouco com o Jan sobre a criança que caíra, e o pastor começou a falar. Bem daquele jeito que pastores usam para falar.
Comentou a ocasião, que não tinha nada a ver com a criança, falou que o Jan e a Malu haviam aberto a ocasião para a igreja deles, ele cumprimentou os vizinhos que lá estavam - eu e mais uma vizinha do primeiro andar -, e puxou tudo. Ele deu a entender que o culto iria contar com bastante cantoria, feita por uma moça que tinha um violão. Recebemos as letras das canções, num papel bastante bem diagramado.
O pastor falou algum tempo, e depois ocorreram várias canções. As canções faziam com que eu me sentisse muito bem, também porque sentia que aquilo era familiar, no sentido de passar a impressão de família, mas sem ser necessariamente chato. Os casais que estavam lá pareciam dar uma impressão de familiaridade que em geral casais estranhos não conseguem me passar.
Eu sentia que todo mundo estava bastante à vontade, e os casais, que eram normais, bonitos, tinham uma boa energia. Eu sentia que aquilo era para valer. Que as pessoas estavam mesmo muito dentro da energia de um culto. E era um culto familiar. Haviam poucas pessoas mais idosas, uma do lado do Jan, na qual eu posteriormente reparei - era a mãe dele, Lígia, que tinha também a Raquel, aquela garota com que me envolvi em 2014 e 2015. Mas isso eu apenas intuí, e algo me dizia que eu iria ficar nervoso com isso.
As canções eram novas para mim. Elas tinham um jeito diferente das católicas, pareciam reacender à Europa, pareciam cânticos a serem feitos a portas fechadas. Eram músicas muito bonitas, tocadas de um jeito bastante simples mas portentoso, e o fato de serem cantadas em grupo fazia com que a gente se sentisse muito bem. Eu apreciava muito aquilo, mas não sabia se realmente participava.
Sentia-me meio como um estranho, como se eu fosse um invasor, de outro tipo de fé. Mas eu tenho em mim a convicção de que a única coisa que distingue o crente do não crente é a fé. Que o resto, as pequenas disputas, não têm realmente relevância, até porque sempre busco o que me irmana, ao invés daquilo que me distancia. Pois me deixei levar por aquela solenidade, que ocorreu também com uma leitura - de Samuel - e percebi que aquilo me agradava bastante. Por outro lado, reparava nas pessoas, e percebia que elas pareciam ter muita fé naquilo tudo.
Num determinado momento, o pastor pediu para que a Malu falasse em voz alta sobre a reunião, sobre seu significado religioso, e que puxasse o culto. Ela fez isso com tanta ênfase que meio que me emocionou só de vê-la. Eu percebi que lá na Igreja Católica tudo o que ocorre de público ocorre por meio do padre e da cerimônia, e que as pessoas não são levadas a falar com o coração o que elas sentem, o que elas pensam, a sua fé.
Percebi que o jeito com que as pessoas se comunicavam, aqui, neste culto, era mais intenso, de certa forma, e o que me atraiu em especial foi notar que eu não tinha desconfiança em se as pessoas realmente expressavam fé. Lá elas estavam apenas para isso, se não estivessem presentes naquilo não teria o menor motivo para elas estarem lá. As crianças percorriam o local e o pastor continuava puxando a cantoria, que não se demorava muito, como os salmos na Católica, mas que causava uma boa impressão, bastante boa mesmo.
Durante o culto, o que me chamava também a atenção - tirando o fato das músicas, cantadas por todos em violão, o fato de várias pessoas falarem para puxarem o culto, por meio de orações, o caráter familiar tranquilo e as falas de cada um - era a imersão de todos naquilo ali. Porque, numa missa tradicional, as pessoas, quando aparecem, embora apareçam muitas vezes em meio a famílias, meio que se perdem no anfiteatro do santuário, e sua imersão na cerimônia é bastante impessoal.
Já aqui, com poucas pessoas, numa cerimônia familiar, estando rodeados por crianças, e sendo que elas por vezes participam, a relação parece mais pessoal. Vemos as pessoas próximas, e elas falam por conta própria, podemos ouvir suas vozes, e sentimos que elas estão naquilo porque realmente acreditam, e se postam respectivamente em relação direta com Deus.
Por outro lado, não vemos nenhuma instituição mediando tudo aquilo. Vemos um grupo de pessoas reunidas para cultuar um Deus em que acreditam, apenas isso. O poder do pastor, nessa medida, é bem menor que o do padre na cerimônia católica, assim como ele não detém o monopólio real da fala, porque as pessoas podem interromper, perguntar, etc. Não há algo muito hierárquico aqui, embora ainda exista, de certa forma, e isso me incomode.
Pois não gosto de ninguém vir falar a mim mesmo como eu devo crer ou como devo me comportar, preciso admitir. Por outro lado, nos momentos em que as pessoas tomam a palavra, e assumindo a vontade do pastor, tomam à frente numa reza, as outras pessoas as seguem, e tudo assume um caráter de cumplicidade bem maior do que o normal.
Por outro lado, há um momento em que algumas pessoas (duas) puxaram uma oração com as pessoas ajoelhadas, sendo que para minha surpresa as pessoas se ajoelhavam e se contraíam realmente, para baixo, como se estivessem em estado de imersão total. Inclusive de costas umas para as outras, para todo mundo. Isso foi bastante interessante. Claro que a gente não pode saber o que passa na mente delas, na hora, mas reparei como aquilo me parecia sincero, e potente. Durava pouco, e não tinha muita cerimônia. Era interessante.
Logo depois, um sujeito, indicado pelo pastor, foi falando sobre a Bíblia (é seminarista), pegando um trecho da Bíblia e dissertando a respeito. Não foi pouco, foi bastante longo, e meio chato, até porque o sujeito se apegava apenas a trechos que ele citava de roldão e que me faziam irritar, porque muito daquilo era meramente palavra, e bastante sem rigor.
Eu notava como ele parecia falar sozinho, ao comentar aquilo em que acreditava e falando coisas que não tinham muito a ver. Nesse sentido, senti um pouco falta das falas na Igreja Católica, em que não é qualquer um que pode vir a falar qualquer coisa, ou em que as coisas precisam assumir um maior rigor, até para serem bastante bem digeridas por todos. Por outro lado, não havia muita discussão sobre regras, atitudes a tomar, pecados, e tudo mais.
Tudo parecia, ao menos ali, mais simples. Claro que não podemos nos deixar enganar: os crentes ou católicos ou cristãos tendem sim a ser bem mais conservadores que as outras pessoas, e nisso podemos entender que eles meio que se colocam à parte da realidade mutante e bastante agressiva que vemos no dia a dia. Nesse sentido, eu mesmo me tornei bastante mais conservador, atualmente, mas por outro lado luto comigo para manter várias de minhas convicções humanistas retiradas de minha educação anterior.
Nesse sentido, meio que destoo, porque não considero que tenha que lidar somente com determinado tipo de gente, nem com determinado tipo certo de comportamento. Muito ao contrário, continuo bastante aberto a comportamentos desviantes. Inclusive falo disso abertamente e considero que a verdadeira humanidade está mesmo nisso, não em nos fecharmos em nossas famílias para propormos algo fechado, conservador e chato.
Eu tava cogitando em ir embora, e só não fui para não causar má impressão. Pois a fala do sujeito era bem chata. E o nível de discussão, baixo demais. Sabe aquele negócio de gente velha lamentando o fim dos tempos? E outros achando que atentados sei lá onde lhe dão guarida para comentarem sobre a veracidade do Apocalipse (o livro)? Pois é.
Era de menos para mim, um nível muito baixo de discussão, se é que se poderia falar em discussão. Pois nesse momento eu pensei que esse tipo de situação, em que a palavra é colocada em abertura solene, dá nisso mesmo. Pois lá não estamos ouvindo um padre, que estuda algo, que seja, e que não pode falar muitas coisas destoando de sua atribuição. Vemos gente ignorante comentando abertamente assuntos que não conhece, e ainda por cima atribuindo ligações àquilo que fala no que diz respeito à religião.
Pensei nisso e entendi algo de por que as missas são do jeito que são, e entendi também por que é insensato reunir pessoas para discussões sobre o dia a dia. Dá merda, claro. Pois eu ouvia isso, e o tempo passava. Mas notei que estava no fim, então fiquei. Não criei uma situação incômoda, e fiquei. Ao final, um senhor tomou a palavra, falou algo também inexpressivo, e cantamos as últimas canções.
Senti que estava acabando, após uma oração (de cada um de nós, conosco mesmos), e em que uma menina tocou com um violino uma melodia bastante conhecida entre eles mas que era nova para mim (sem letra). Ao final, o pastor conduziu a cerimônia nos ritos finais, ele agradeceu por tudo, e assim foi que tudo rolou. Havia-me esquecido de que num determinado momento os anfitriões foram convidados a falar de si mesmos, e a explicarem como estavam se sentindo com a situação e no que diz respeito às suas respectivas fés.
O xxx e a Malu falaram, e foi bastante construtivo. De forma geral, então, tirando o fato de que as pessoas falaram algumas coisas que não tinham nada a ver, em suas respectivas ocasiões, a reunião foi bastante interessante.
Foi quando as pessoas se dirigiram para a parte de trás e foram pegando comida e bebida, para compartilharem essa pequena festa. Eu estava com bastante fome, admito, e não tinha nada pronto em casa. Pouco antes, nas apresentações, o pastor quis saber quem eu era, e eu disse que era o vizinho de cima, para o que as pessoas se surpreenderam.
O pastor falou que provavelmente eles estavam atrapalhando, mas neguei, e de forma bem clara. Pouco antes também perguntaram quem era a moça ao lado do xxx, e era sua mãe, com o que notei que minha impressão estava certa. Essa moça ficou bastante surpresa com minha determinação ao falar em determinadas ocasiões, e ficou então de butuca. Acho que ela sabia que eu iria aparecer.
Ou talvez o xxx tivesse lhe dito que iria me convidar. Seja como for, quando falei o meu nome ela ficou bastante atenta. Aqui cabe uma explicação. Quando me envolvi com a Raquel, ficou mais ou menos claro que era eu que queria ter um relacionamento com ela, mas que ela não aceitava, ou não concordava com o jeito como as coisas iam.
Seja como for, quando a gente rompeu, foi por iniciativa minha, motivado pela Paula, minha vizinha, que deu em cima de mim e com a qual eu tive uma grande amizade, quase um relacionamento (é minha melhor amiga, ainda hoje). No caso da mãe da Raquel, ela sabia que eu havia me envolvido porque realmente gostava da Raquel e não porque simplesmente queria passar alguns momentos picantes. E isso realmente era a verdade. Mas seja como for, tudo terminou. Mas essa impressão ficou desse jeito.
Aqui cabe-me falar algo mais. Eu havia ficado realmente com um vazio e uma estranheza quando fiquei com a Raquel no que diz respeito à mãe dela. Por vários motivos. Alguns deles são os seguintes. A mãe da Raquel havia sofrido problemas psiquiátricos durante a época em que criou os seus filhos. Além disso, ela protagonizara eventos em que a compreensão dos filhos foi determinante para que ela superasse seus problemas - ela chegou a protagonizar eventos estranhíssimos na rua, por exemplo.
Por outro lado, a Raquel e o xxx são pessoas muito legais, e mesmo com seus problemas ela conseguiu criá-los, sem o apoio do pai, que se separou dela num determinado momento da criação. O pai da Raquel, por outro lado, é um sujeito que conheci brevemente e que também apresenta um comportamento no mínimo um pouco diferenciado, em relação às outras pessoas.
Por outro lado, para ajudar a Raquel em determinados momentos, eu cheguei inclusive a visitar a casa da mãe, com a companhia da Raquel, e o fato de não conhecer sua mãe meio que me deixou uma impressão estranha. Foi como se eu fosse meio proibido de vê-la ou conhecê-la, ou como se eu precisasse manter uma presença escondida, ou subterrânea.
Foi como se eu não fosse ninguém, também. Seja como for, eu apenas imaginava a mãe deles, e não imaginava que um dia iria conhecê-la. Por outro lado, conhecer sua mãe meio que me reaproximava da Raquel, de alguma forma, e isso me causava uma outra estranheza, um outro tipo. Claro que isso no fundo é errado de pensar, porque não mantenho nem viso manter mais contato com a Raquel, mas seja como for foi como se o mundo voltasse para mim de alguma forma.
Por outro lado, eu percebi claramente, bem no começo da reunião, que a mãe dela meio que sabia ou imaginava quem eu era, e isso me incomodava um pouco, porque não sabia que imagem ela poderia ter de mim. E neste momento, quando tento me safar de muitas situações, isso me causa alguma insegurança, pelo menos o tipo de insegurança que eu não busco nem posso ter.
Por outro lado, vivi e vivenciei os momentos de 2011 a 2016 com bastante estranheza. Tanto que me lembro de absolutamente tudo, mas não consigo ainda compreender em que medida eles são relevantes em minha vida. E, no caso do caso com a Raquel, passei por diversos momentos tentando decifrar o que aconteceu. E confesso, todos meus esforços foram infrutíferos.
Não sei bem como argumentar. Sei apenas que, se por um lado meu relacionamento com a Cris foi aos poucos sendo entendido e devassado - algo que acontece todo santo dia -, o meu relacionamento com a Raquel também virou quase uma incógnita para mim. Tanto que não consigo entender realmente por que eu fazia o que fazia, qual era a importância dela em minha vida naquela época, por que eu insistia em algo que não me dizia respeito, e por que eu queria apenas sexo ou algo do tipo.
Eu não sei até agora o que aconteceu. Nem sei se ela realmente tinha algo a ver comigo ou não. Por outro lado, noto que com ela fui bastante longe, longe até demais, e que por outro lado, se algo ficou em mim, algo também foi embora. Mas não sei o que esse algo quer dizer. Não consigo entender.
Daí que a oportunidade de conhecer a mãe dela meio que retoma minhas questões, meus questionamentos, e eu não sei o que fazer com eles. Pois é como se o tempo todo eu estivesse em minha pele e não estivesse. É uma estranheza que pode ter a ver com minha doença, a esquizofrenia, mas também pode não ter nada a ver com ela - pode querer dizer respeito a meu estado emocional ou psicológico, ou à minha maturidade intelectual ou sentimental.
No que diz respeito a esta última - minha maturidade sentimental -, eu realmente sinto que vivi muito do que vivi sem saber o que estava fazendo. Tanto que meu texto tentando recuperar os momentos com a Cris - que está pela metade, e que venho divulgando também aqui - é algo que parece estar sendo construído agora em mim, e aos poucos, muito aos poucos, como se fosse um edifício cujas reentrâncias passassem a fazer sentido somente agora mesmo.
Pois parte dos motivos para eu não continuar a escrever aquele texto advém disso mesmo. E parte também do fato de que todo dia parecem haver novas camadas a ser acrescentadas a ele. Hoje mesmo acordei com uma impressão específica, e ontem também. Por outro lado, lembro-me de quando eu saía com a Raquel e percebo muito levemente os fatores pelos quais eu me conduzia, porque, da mesma forma que com a Cris, com a Raquel eu parecia estar fixado em objetivos claros, mas ao mesmo tempo conduzido pela mão por uma moça que eu não conseguia sentir adequadamente.
Porque a maior parte do tempo eu realmente não sei como sentir as pessoas. É como se elas se comportassem de forma a que me obrigassem a aceitá-las de determinadas formas, quando eu quisesse de mais tranquilidade, ou de conversas diferenciadas, ou mesmo de poder observá-las de fora, como objetos, para senti-las de forma mais entranhada. Isso, eu não lembro-me de ter feito nem com a Cris nem com a Raquel, quanto menos com a Paula. Esta foi quem mais se aprofundou nessa minha percepção, mas agora, na medida em que ela está distante - está me evitando -, me deixou numa situação estranha, incômoda, como se eu não tivesse mais nada em que me fiar. É estranho.
Mas as canções haviam acabado e eu começava a me aproximar da mesa com os alimentos. Notei que a maior parte das pessoas fazia o mesmo, e que começava aquele jogo de empurra empurra típico de pessoas que são soltas num espaço comum. Peguei alguns pedaços de sanduíche e passei a conversar aqui e acolá, com algumas pessoas. Fui reparando que realmente a maior parte das pessoas não era dali, e fiquei mais tempo com um sujeito alto, que havia se dirigido a mim anteriormente, e que tinha um jeito bem plácido de falar.
Falamos sobre bastante coisa, mas nos concentramos mais mesmo na religião. E conversei falando sobre mim, sobre minha trajetória, e me deixando levar pelo jeito tosco que tenho encontrado para falar de mim. Um jeito que é duro, que vai direto ao ponto, e que não esconde nada de si - ou quase nada. O sujeito foi entendendo meu caso, minha trajetória, e foi aos poucos arranjando meios de me convidar para seus cultos. Talvez para dar testemunho ou mesmo para me converter com eles.
Mas notei que isso me incomodava um pouco, porque sempre noto isso, que as pessoas meio que se vêem obrigadas a convidarem os outros às suas igrejas, como se elas fossem melhores, sendo que eu me sinto bastante bem na Igreja católica, com aquelas pessoas e aqueles cultos, que usam também outros recursos. Por outro lado, não pude lhe dizer que não iria, e fiquei em cima do muro, argumentando porém que havia gostado bastante do culto deles.
O xxx se aproximou e trocamos algumas ideias sobre ele, sobre os cultos e o lugar. Fui notando que as relações de amizade, ali, fora do culto, pareciam assumir o tom típico das pessoas comuns, e que não se diferenciava em nada, nem nos temas, nem no tom, nem nos gestos. Fui me desinteressando de tudo aquilo. Eu realmente busco cultos que se bastem por si, não necessariamente que nos levem a mais entrosamentos.
Por outro lado, entendo o papel social dos cultos e das missas, mas ele me irrita um pouco, tenho que confessar. Porque considero que o culto é um lugar para uma energia que nada teria a ver com entrosamentos comuns, com conversas comuns. Essa ligação entre uns e outros me incomoda bastante, quando acontece, e tento não entrar nesse clima. Mas a hora havia sido alcançada e as pessoas começavam a ir embora, e a arrumar as mesas.
O xxx e a Malu me passaram vários pedaços de sanduíche, de bolo e de salgados que haviam sobrado. Me senti um pouco mal com isso, mas eu também precisava - e eles queriam me ajudar. Cumprimentei de vontade própria a mãe do xxx e fui para casa. Foi um evento simples, aquele, e não me satisfez de todo somente porque as pessoas, eu sentia, falavam também coisas que para mim não tinham nada ou quase nada a ver. Eu queria na verdade quase ficar isolado, e noto agora como eu converso daquele jeito quando me sinto nervoso ou meio que provocado.
O sujeito que faz seminário me cumprimentou e eu lhe falei que ele tem de ouvir e ler outros livros, sendo que ele não gostou muito da mensagem. Ocorre que eu queria lhe dizer que somente falar da Bíblia, como se ela explicasse tudo do mundo, era muito chato, realmente, e evitava com que os mais críticos pudessem entrar e se converter. Mas deixei ele ir embora e fui para casa, me despedindo.
Esse foi o momento em que pensei naquilo que tudo isso tinha me causado, e reparei como eu estava também bastante calmo e como começava a dar mais importância à questão familiar da religião, muito embora nem por isso desistisse de levar a religião a sério como eu atualmente vou levando - com isolamento, com leituras tranquilas, com audição de músicas gospel e com reflexões bastante íntimas sobre aquilo que a conversão ainda me causa.