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Preciso fazer um pequeno depoimento de algo que aconteceu ontem. Por desencargo de consciência, mas também por registro e testemunho.
Não tenho uma relação muito fácil com a fé. Isso porque, ao ser muito estudado, tenho tendência a desacreditar de muitas coisas. Se não tivesse acontecido um evento há alguns meses, aquele no banco, eu mesmo possivelmente teria desacreditado de todo na religião. Mas seja como for sinto a fé cada vez mais forte, e dispenso quem queira atribui-la a eventos factuais, que aconteçam na realidade, e que possam ser comprovados pelos sentidos. Mas aos poucos fui sentindo a fé dentro de mim. E mesmo sendo esquizofrênico, e portanto sujeito a rompantes emocionais, fui avaliando se aquilo que dentro de mim acontecia, no meu coração, era ou não fé.
Pois bem. Ontem eu não fui à catequese, por algo que senti e que dizia respeito a um esclarecimento que eu deveria deixar a meu cargo e não a Deus. Eu lembro que pensei isso mesmo: no que diz respeito a isto que estou sentindo, eu mesmo é que tenho que refletir.
Pois bem. Fiquei em casa, tentei refletir no assunto mas não consegui. Fiquei imerso em responsabilidades, e em coisas que me ajudaram a me descobrir. Senti por instantes que foi bom eu não ter ido. Não sei bem se isso era verdade, mas seja como for era o que eu sentia. Eu me sentia dono de mim. Por outro lado, algo aconteceu que me fez recuperar de uma dúvida com respeito a documentos. E assim foi, quando comecei a me preparar para ir à missa, à noite.
Estava tendo uma festa embaixo. E como sempre eu fico muito confuso com barulhos daquele tipo, mesmo que não excessivos. Fiz minha reclamação na portaria e com o ronda, e fui me preparando para sair.
Note-se que há vários meses eu tinha que me esforçar muito para me preparar adequadamente para ir à missa. Pois eu me vestia muito mal, andava fedendo o tempo todo, e sentia que somente a missa era uma ocasião que merecia que eu tomasse banho e me vestisse melhor. Houve uma época em que eu descia com paletó e quase gravata, com a Bíblia embaixo do braço, como aqueles senhorzinhos evangélicos que viram personagem.
Pois bem. Desta vez, eu me vesti e saí. Saí com alguns livros, mas numa pequena pasta que minha mãe me deu. Eu saí bastante elegante e fui andando com calma, para aproveitar o trajeto para pensar comigo mesmo (algo sobre o que tenho muita dificuldade). Eu sentia que estava bem, bastante convicto da ocasião, e não parecia sujeito a nenhum pensamento em particular.
Quando vou ao santuário, passo por uma ladeira (em descida), e depois normalmente eu páro numa padaria para comer uma coxinha, um pedaço de pizza ou tomar um café. Eu havia passado por algumas pequenas praças e me aproximava da descida quando uma impressão atingiu o meu coração.
Foi algo leve, ao que parece vindo de fora dele, ou seja, como se algo ou alguém me dissesse algo e me compungisse uma impressão. Foi algo que não saiu do meu pensamento. Eu me recordo bem que a impressão na hora foi como se eu estivesse pensando com o coração. Foi algo muito tênue, muito leve, algo que eu havia sentido antes, em outras ocasiões, mas de outras formas. Mas desta vez foi diferente. Porque, como insisto em dizer, pareceu entrar no meu coração vindo de fora.
O que foi esse pensamento? Foi uma impressão sobre ter família, sobre ter um amor. Mas para isso preciso explicar melhor.
Notem, eu sou um solteirão de 50 anos, que mora num condomínio fechado, que foi casado, que foi separado, que teve um arranca rabo (com uma moça) e que teve uma grande amizade com uma moça linda que mora no mesmo prédio (a Paula). Um cara que gosta muito de sexo, mas que quer ter critério a respeito. Um sujeito que não aceita mais sexo descompromissado, e que gosta acima de tudo de relacionamento. Um cara que se converteu. Um cara que se tornou interessante para as moças da igreja.
Pois bem. Eu preciso admitir que com a Paula eu nunca penso em montar família. Ela tem um filho, ela mora perto, a 20 andares de distância, ela gosta de sexo casual, e ela é linda, do tipo de mulher que eu sempre quis. Pois bem, eu sempre pensei meu relacionamento com ela como algo sério mas nunca para montar família. Nunca pensei nisso, e não penso ainda. Por outro lado, ela tem um comportamento que em parte me agrada, por ser intenso, mas por outro lado não me agrada, por ser muito casual. Nesse sentido, comecei aos poucos a pensar em ter família, em ter alguém aqui comigo. Em ter filhos.
Mas confesso que gosto e não gosto de crianças. Nunca as penso como algo de mim. Nunca consigo imaginá-las como algo importante para minha vida, como alguém que eu pudesse criar. Assim como nunca consigo imaginar uma relação como algo que vá muito além do sexo, a uma real compreensão do outro, a um aceitamento, e a uma vida em comum. Tenho dificuldade nesse sentido. Penso nisso com respeito a qualquer pessoa. É algo que vem de dentro. Uma espécie de imaturidade. Por outro lado, começo a me tornar uma pessoa adequada. Reparo nas minhas dívidas, lido com elas, com minhas responsabilidades, e penso nas pessoas como gente à qual eu tenho que dar relevância, realmente. Importância. É um processo gradual, intenso, e que passa por minha superação da separação.
Pois ontem, pela primeira vez na minha vida - creio -, algo aconteceu. Foi uma impressão muda, algo suave, repentino, que sumiu tão logo apareceu, mas que me surgiu como determinante. Como se fosse algo para valer. Pois eu pensei nisso e de repente fiquei estupefato. Continuei andando, e algo pareceu mudar em mim para sempre. Uma espécie de semente que veio de fora. Uma impressão de algo que não sabia que me dizia respeito. Posso dizer que quase apareceu como uma voz, como algo me dizendo que eu quero ter alguém realmente para valer. Um relacionamento marcante. Uma confiança maior.
Notem que no caso da Paula eu aceitei tudo dela. Aceitei-a tal como ela é, com problemas de bebida e seu comportamento arredio e mesmo estranho. Eu havia encontrado o amor por alguém por meio dela. Uma garota realmente legal e linda que poderia ter algo efetivamente forte por mim, e que eu conseguiria trabalhar para que ela começasse a encontrar a vida, efetivamente. Mas as coisas foram acontecendo, ela perdendo as estribeiras, eu também, e agora ela se trata, e eu não sei mais o que pensar. Por outro lado, comecei finalmente a pensar em mim, como homem, como ser humano, como futuro, não apenas com base no que já fiz, e agora o que me aparece é isso. Essa impressão.
Isso não tem acontecido de repente. Consiste num processo longo, pelo qual qualquer pessoa no fundo passa, quando a mudança é para valer. Porém, no meu caso, o que acontece é que tudo se dá ao mesmo tempo em que minha conversão fica mais profunda. Isso não significa que não ocorram recuos. Este fim de semana foi um deles. Porém, o que ocorre no fundo é que todo o processo parece me conduzir a algum lugar, não apenas a simplesmente continuar sendo como sempre fui.
Pois reparei brevemente, en passant, naquele momento em que algo surgiu em meu coração, e aparentemente vindo de fora dele, e na missa reparei, em meio a choros (chorei três vezes), que aquilo consistiu no Espírito Santo falando comigo. Pois foi no dia de Pentecostes. E foi de forma desavisada, sem perceber realmente o que acontecia. E foi como se viesse de algum lugar. E não foi como um pensamento meu, meditado por mim, refletido por mim. Não, foi como se alguém estivesse falando comigo. Me dizendo para fazer alguma coisa. Ou me dizendo aquilo em que estou me tornando.
Notem que houve dois momentos na minha vida em que algo similar aconteceu. Uma vez, comigo, outra vez, com outra pessoa. Uma vez, quando algo me disse para falar algo do jeito que deveria quando estava sendo perquirido por uma gerente de banco, com a presença de minha mãe. Outra vez eu diria que aconteceu quando convidei um sujeito de rua a ir à igreja. Mas outra vez quando uma moça me perguntou, no banco, se eu acreditava, dizendo: ele só quer saber se vc acredita.
Pois bem, eu acredito. Do fundo de minha alma, acredito. Nego muito do que vejo no mundo, noto que há injustiças e me rebelo, mas o que acontece no fundo é que acredito. Pois na missa aconteceu que em meio a minha reflexões duas moças se aproximaram, duas belas moças que me deixaram sem jeito. E percebi que Deus está falando comigo. Claro, elas se aproximaram porque quiseram, não porque o ES lhes disse algo. Porém, no meu caso, eu reparei naquela mensagem enquanto descia em direção à igreja, e reparo, foi o Espírito Santo. É isso o que tenho a dizer. É estranho, muitos vão achar que exagero, outros vão dizer que é isso, mas tenho essa convicção. Tanto que hoje é como se ele tivesse falado comigo pela manhã, mas depois eu me concentrei em meus afazeres e algo aconteceu que nos afastou.
Vem, Espírito Santo, vem, por favor.
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Irei comentar agora o que me aconteceu esta quarta-feira, quando fiquei em casa fazendo as devidas ligações para conseguir pagar uma parcela de um acordo de dívida que estou enrolando há vários meses. Irei comentar me atendo aos fatos. Mas o foco é a questão do chamamento do Espírito Santo. Como sempre vem acontecendo, ocorrem novidades bem sutis, e algumas maiores, que acabam acontecendo por meio de coincidências que mais parecem chamados. Mas não irei entrar excessivamente nisso. Em escritos posteriores, irei falar de como essas minhas percepções parecem ter a ver com impressões de santos e santas, assim como de livros em que teóricos discutem o Espírito Santo e outras questões relativas à fé. Hoje decidi não sair, digo, ir assistir peça no centro de São Paulo, em parte porque aqui perto a situação está meio perigosa, porque um dia fui seguido por assaltantes e porque eu tenho que resolver muitas questões práticas, para conseguir tocar a vida. E porque o chamado do ES parece estar mesmo nessa direção.
Pela manhã, eu estava preocupado com a questão de uma conta. Pois bem, liguei, mas eles haviam encavalado duas. Então eu liguei de novo e combinei de pagar apenas uma, no valor que eu podia. Pois me aprontei. Eu havia tomado risperidona, mas não me sentia chapado (como ontem, quando tomei 2 mg, o que me confundiu demais), e por outro lado eu estava conseguindo bastante rendimento no escaneamento de umas revistas do meu trabalho antigo (estava fazendo meu site, e meu portfolio).
Quando fico fazendo isso (escaneando), normalmente eu também faço download de alguns trabalhos em pdf, ou deixo no youtube vendo a Praça de São Pedro. Pode parecer meio idiota, mas ver aquela praça me deixa tranquilo. Quando faço download de trabalhos, são sobre religião ou sobre algum tema mais técnico, que eu possa sobrevoar com as leituras. Pois bem. Eu havia trazido alguns materiais sobre Karl Barth, o teólogo, e lido algo sobre ele, assim como sobre sua forma de lidar com a religião na prática. Percebi que algo naquilo me afetava. Percebi que a intenção de voltar para antes do atual consenso com respeito a diversos temas é algo que me ajuda muito. Porque, ao ver como os teólogos discutem tradições que se mantêm (como o pietismo), eu também reparo como eu lido com determinadas questões. Por exemplo, como os calvinistas tratam as revelações dos livros sagrados, a separação entre as instâncias Estado Igreja, etc. Por sua vez, eu só me foco naquilo que diz respeito à minha experiência espiritual. Não gosto de misturar assuntos, como política, por exemplo.
Por outro lado, noto como os autores, e muitas vezes os santos, em seus relatos, se aproximam de impressões que eu mesmo tenho. Não gosto que me neguem o que sinto, aqui no fundo de mim mesmo, mas aceito que os textos teóricos vão mais longe. Mas não tenho intenção de ir nessa direção. Busco uma pureza, nas experiências dos outros, com as minhas, de forma a que eu consiga entender melhor o que acontece comigo quando o ES fala comigo.
Preciso dizer que tenho estado muito isolado, não falando com ninguém, nem deixando que as presenças alheias interfiram na forma como lido com o mundo. Isso, claro, faz com que eu tenha dificuldade, ao menos no começo, quando falo com alguém, e com que eu tenha tendência a me ensimesmar, ou seja, a pensar muito comigo, e inclusive a ter pensamentos que outros podem considerar algo fixados em coisas que só eu entendo ou a que só eu tenho acesso.
O remédio faz com que eu me sinta mais ou menos bem, sem criar ilusões, nem criar impressões de que alguém está excessivamente contra mim, quando isso acontece (por exemplo, hoje um sujeito entrou em contato comigo de forma agressiva pelo facebook e postou coisas em sua timeline que provavelmente teriam a ver comigo). Mas eu não invento nada. Só fico muito sensível àquilo que acontece. E fico muito ensimesmado, com impressões muito próprias de quem quer ficar sozinho, ou talvez de quem realmente sempre precise, sem interferência excessiva ou mesmo básica de ninguém. Mas nada que interfira na forma de lidar com a realidade.
Quando decidi ir pagar a conta, aprontei-me e levei alguns pequenos livros sobre religião, mas não a Bíblia nem o Novo Testamento. Livros pequenos, da época da Opus Dei, mas um caderno grande. Tomei banho, estava há dois dias sem tomar, e desci. Já embaixo eu senti um certo mal estar ao ver as pessoas, mas as evitei, não falei com ninguém, e simplesmente me concentrei naquilo que eu iria fazer. Iria passar na padaria, mas apenas para tomar um café (tinha apenas 2 reais e 65 centavos).
Por vezes, eu me sinto distanciado das pessoas quando saio, assim, sem mais nem menos. Percebo as pessoas distantes, percebo que estou fixo diante de algo que irei fazer, e que meu pensamento se concentra em como estou me sentindo. Nesse sentido, minha relação com o mundo se torna suave, distante, e por vezes quase contemplativa. Pois aconteceu uma coisa, então.
Eu estava numa rua em direção a uma ladeira em descida. Pensava em mim mesmo, na minha condição, na minha dependência de minha mãe, e estava me sentindo meio alheio a tudo o que me rodeava. Devia ser parte minha doença, parte o remédio. Sei que de repente eu me senti fixado numa situação específica. Foi como se algo me retivesse pela mão e me dissesse finalmente o que eu devo fazer. Algo que dizia respeito a minha determinação em fazer alguma coisa. No caso, encontrar emprego. Porque eu fico a maior parte do tempo confuso, no dia a dia, fazendo coisas, mas sem convicção suficiente para me sentir finalmente saindo da situação em que estou. Me sinto sem determinação.
Pois aqui algo parecia me subjugar por alguns instantes, eu andei uns 20 passos com essa impressão, e tudo de repente pareceu-me claro. Era uma espécie de confirmação de algo que eu preciso fazer, mas com uma determinação interna que parecia vinda de uma espécie de sentimento de fé. Era como se finalmente eu estivesse convencido dos passos que preciso assumir, da leveza deles, ao mesmo tempo que convencido de que eu sou livre para fazer isso, e que isso seria para o meu bem. Não sei bem como aconteceu. Foram alguns passos que duraram uma eternidade, e que posso atribuir em parte à superação dos meus problemas psíquicos por algo mais, por algo que me faz ter finalmente destino para mim mesmo. É como se eu estivesse voltando a ser aquilo que eu fora, como se eu estivesse finalmente sob controle de mim mesmo. Foi por alguns instantes, sendo que eu não consegui aqui descrever claramente o que foi que aconteceu.
Aqui é preciso explicar que tenho passado por uma revolução interna. As fotos da Cris não batem profundamente mais em mim. Eu a vejo como uma pessoa diferente, distante, e mesmo que eu não aprecio mais. Sinto que meu amor foi muito grande, mas hoje a vejo distante, de várias formas, e não consigo explicar como isso se dá realmente - mas se dá. Por outro lado, penso em minha situação e alguns motivos me fazem pensar, realmente, em minha vida concreta. Pois é como se eu estivesse finalmente acordando para mim mesmo, para o que sou e o que pretendo, e para as coisas que me animam na minha vida. Começo a me referir a mim mesmo como um senhor de 50 anos, que tem problemas de identidade, ok, mas que é um senhor, e que precisa ser tratado e se tratar como tal. Isso acontece ao mesmo tempo em que me refiro à minha vida, e aos meus problemas, e que começo finalmente a me enxergar enquanto pessoa. Sei que pode parecer estranho falar assim, mas é real. Vejo as outras pessoas distantes porque aproximei-me de mim.
Muito bem, tomei um café, fiz o que tinha que fazer no banco, onde não fiquei estressado, e em seguida fui à Igreja. Lá chegando, estava ocorrendo uma missa. Entrei e fiquei. E percebi que era para São José Operário, para as pessoas com dificuldade em arrumar emprego e serviços. Percebi isso como se precisasse ser isso mesmo. Me pegou de surpresa, e senti que era quase um teste, para ver se eu estava realmente envolvido enquanto vontade nessa necessidade de arrumar uma saída para minha vida. Reparei que quase foi providencial, e que algo parecia se comunicar comigo nesses pequenos eventos. Era quase como uma deixa para eu finalmente deixar de pensar errado, e passar a pensar seriamente na vida.
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Já comentei aqui a primeira vez que eu creio ter sentido o Espírito Santo. Teve alguns comentários, poucos, e eu mesmo nem estava muito a fim de chamar a atenção.
Notem, minha vida continua basicamente a mesma. Continuo me esforçando muito para lidar com minha doença, e também para lidar com os desafios da vida. Para isso, estou sendo ajudado especialmente pela minha mãe.
Mas agora eu gostaria de comentar mais um pouco como têm se dado os efeitos do Espírito Santo em minha vida desde então, desde que o senti pela primeira vez. Pois ele começa a tomar conta de nós, quando nós deixamos isso, e com isso começamos a seguir os seus passos sem que quase nos apercebamos.
Os comentários que irei fazer a seguir dizem respeito aos últimos dias, e estão isentos de imaginação, pura e simples. Pois noto como na minha vida os efeitos do ES aparecem simplesmente, como se viessem do nada, e como eles me ajudam a tomar conta da minha vida.
Lhes digo que nada ocorre, nesta história, sem recuos. Ou seja, há momentos em que me enfraqueço, em que pareço não mais ter controle de minha vida, e em que simplesmente não sei bem como ajo. Mas aos poucos, com reza e com tranquilidade, tudo volta ao combinado, a uma sensação gostosa de saber-se conduzido por ele.
Depois que eu senti o ES naquela descida para a missa, passou-se uma semana. Nessa semana, fui à advogada, levei alguns documentos, fui também à psiquiatra e falei com minha mãe, pois iremos falar com a psicóloga dia 8, porque eu criei uma confusão e a psicóloga considera necessário. Não comentarei sobre a confusão, foi algo devido à ausência de suficiente remédio e ao fato de ter estado muito sozinho.
Bom, nesse intervalo algumas coisas aconteceram. No dia da visita à advogada, passei na igreja. Assisti à missa, e tudo foi tranquilo. Mas algo foi acontecendo também na minha relação com a minha vida. É curioso, porque o ES age, deixa o efeito acontecer em nós, mas depois faz com que nos esqueçamos que ele realmente agiu naquele momento, com sua ação.
Mas nos últimos dois dias não foi assim. Senti seu efeito claramente em mim, e gostaria de comentar a respeito.
No domingo, fui à catequese. Eu tinha que ir, até porque a Helena, esposa do diácono, está preocupada comigo. Chegando lá, me comportei como sempre. Mas houve um trabalho em grupo que nós tínhamos que cumprir. Como sempre também, tomei a iniciativa no sentido de guiar o meu grupo, mas com respeito àquilo que eu sabia ou que percebia fiquei calado. Não falei nada do que eu achava, e ficamos para falar na outra semana.
Pois saímos e fomos à lanchonete. Tem um casal de catequistas que quase sempre me paga o café da manhã. Mas desta vez eu não queria abusar. Simplesmente fiquei num canto da lanchonete, no qual batia sol, e fiquei assim, sozinho, me concentrando em mim mesmo. Não estava com intenção de conversar, e não queria comer nada.
Pois havia levado alguns livros na ocasião. Livros de autores que me influenciam e que eu gostaria de trabalhar. Além da Bíblia, é claro. Pois fui pegando-os, um a um, e lendo-os com tranquilidade - alguns eu conheço bem. Pois após a leitura de um me senti de repente muito leve, enlevado, como se algo estivesse me autorizando alguma coisa. Esse livro é de um dramaturgo amigo meu que de vez em quando comenta algumas coisas sobre sua vida. O livro é importante para mim.
Pois a impressão que me coube naquele momento era como que uma autorização. Eu havia lido já trechos daquilo que ele escreveu naquele livro, em outras ocasiões. Mas sempre como que ficava a ver navios, sem entender direito, a meu ver. Por outro lado, eu sentia que dava muita importância a tudo aquilo, àqueles textos, e que isso me confundia. Pois ocorreu que, logo após ler alguns trechos e entender perfeitamente, a sensação de que eu era autorizado a trabalhá-lo veio em minha direção. Senti como se alguém me chamasse e dissesse que eu poderia sim dar-lhe importância àquele texto. Mas que isso com a condição de não dar-lhe excessiva relevância, como que entronizando-o como uma espécie de deus.
Ocorre que eu penso nisso há muito tempo. Tenho uma peça de teatro que quero encenar, sobre um roqueiro, mas não consigo me sentir bem com isso, porque com a peça seria como se eu entronizasse o roqueiro como alguém superior. Sendo que não há ninguém superior. Passo por isso há anos. E a sensação de algo indevido é o que mais me impede de tocar o projeto adiante. Pois bem, com essa sensação que me invadiu algo pareceu tornar-se claro para mim, que eu podia fazer isto ou aquilo porque eu não entronizo novos deuses para ninguém. Ou seja, que eu não confundo as bolas.
Foi curioso na hora, porque a sensação, assim como da primeira vez, foi muito suave. Foi como uma voz falando comigo, me dizendo e me autorizando alguma coisa, e como se com isso eu me sentisse finalmente livre comigo mesmo. Curioso ainda mais foi que em seguida eu li alguns trechos de outro livro, sobre filosofia moral, e que senti a mesma coisa. Foi como se alguém estivesse pela primeira vez me liberando para trabalhar tudo aquilo. Como se também eu finalmente entendesse aquilo. Os trechos que caíram nas minhas mãos pareciam me dizer explicitamente isso. Por outro lado, eu sentia que havia um projeto nisso tudo, e que essa liberação não era dada sem mais nem menos. É como se eu estivesse sendo autorizado a ser feliz.
Bom, isso aconteceu no domingo. Não falei para ninguém o que me aconteceu. Subi e assisti o restante da missa, e me senti muito bem com ela.
O outro evento que me revelou o ES aconteceu hoje.
Pois bem. Eu tenho muitas paixões na vida. São assuntos, temas, situações, em suma, coisas externas que me apaixonam. Mas são coisas que, por um motivo ou outro, não toco para a frente. São coisas que vou adiando, como se não pudessem me disser respeito, como se eu não pudesse me esforçar e ser feliz com elas. Pois bem, fui fazendo o escaneamento de umas revistas antigas, na minha impressora, e as memórias foram voltando. E uma sensação gostosa de algo que foi meu e que eu quero ainda que o seja foi tomando conta de mim.
Curioso também foi que algumas coisas foram aparecendo na minha frente me lembrando dos desafios que teria que enfrentar com isso, e que isso foi me acabrunhando. Como se eu não tivesse suficiente energia e vida para poder conseguir o meu sonho. Ou seja, fui ficando dividido, em parte motivado pelo sonho, em parte constrangido por minhas dificuldades. Foi então que percebi que a sensação na hora era a mesma de antes. Uma sensação suave, de algo retornando na minha vida e mais importante, me impelindo PARA A FRENTE. E com alegria. Foi algo muito forte, de que levei tempo para me recuperar. Pois bem, hoje, que comento, apenas dou meu testemunho. Mas foi isso que aconteceu.
O que me permite dizer que foi o ES? O mesmo de antes. Que foi algo que entrou em mim por fora, que me tomou o coração e que me trouxe um alívio imenso, algo que me causou uma leveza impossível de comparar, e que com as situações humanas não acontece. Pois é mesmo, nada parece acontecer na minha vida dessa forma. Somente isso.
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Irei comentar agora algumas impressões que tenho experimentado quanto à questão do Espírito Santo, e como ele aparece para nós, crentes, cristãos e como eu sou, católico.
O que irei comentar não são aspectos sensitivos, experiências que haja tido, nada de mais que valha a pena citar. Apenas irei comentar uma sensação quando estava falando sobre ele, em público, outra, quando estava tentando em guiar, com meus próprios esforços, e outra, quando comecei a ler outros materiais na internet a respeito, alguns em inglês.
O primeiro caso que tenho que comentar aconteceu durante a sessão da catequese, no domingo. Eu fui pela manhã, encontrei a Sandra, que se apresentou de uma forma diferente (logo comento), e cumprimentei as pessoas, tanto o catequista, como a Helena, como alguns colegas.
Tínhamos que falar lá na frente a respeito dos dons do Espírito Santo e ao contrário de sempre eu deixei que os outros falassem. Minha fé estava fraca, eu estava distante do assunto, minha fé parecia perigar, e eu estava bastante confuso. Pois surgiu a oportunidade, falei e contei como o ES falou comigo três vezes. Na hora, pareceu falso, como se eu estivesse forçando a barra. Claro que, como vocês sabem, meus relatos são intensos e verdadeiros. Mas algo naquilo, em meu tom de voz, ou na forma como estava contando, saiu falso. Eu revelei bastante insegurança, e foi a minha pior fala durante toda a catequese. Era como se eu tivesse desaprendido tudo. Incrível.
A Sandra estava me encarando de outra forma, e durante a minha fala também expressou incômodo. Parecia se fechar em si mesma, incômoda de se apresentar com mais corpo do que deveria, e eu mesmo achei estranho. Depois falamos e ela pela primeira vez ficou mais no sacrário do que na frente. Senti que ela estava com a cabeça bem em outro lugar.
Hoje, por outro lado, estava tentando trabalhar. Sem sucesso. Não conseguia engrenar, me concentrar nem nada. De repente, decidi pesquisar sobre o espírito santo, e algo pareceu fazer sentido. Passei algumas horas lendo e me comovendo e percebendo que ali havia algo. Em seguida, pesquisei sobre ele, e algo pareceu se abrir. Não sei expressar agora como isso se deu Mas algo aconteceu, e não foi mera impressão subjetiva (embora seja impressão subjetiva).
Talvez a impressão de que tenha se aberto algo em mim tenha sido em virtude de perceber que ele é Deus. Simplesmente isso. Que não é uma manifestação, uma espécie de contato, algo menor. Que é Deus, e que ele nesse momento habita em nós. Que nos mostra algo que nós não vemos e que somos nós. Fiquei pasmo ao saber disso. E é tão óbvio.
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Tive duas ocasiões hoje em que pareceu que o ES estava me guiando. Foram sutis e não teve nada demais nela - tirando o fato de ele estar mesmo falando comigo. Estando dentro de mim.
Primeira, era de manhã. Eu estava tentando trabalhar, me guiar, e de repente surgiu uma pequena autorização para tocar as coisas de forma ao meu nome subsistir. Ou seja, de forma a eu ter um espaço em sua ação. Foi muito claro, não aconteceu nada, simplesmente algo me disse isso.
A segunda foi há pouco, quando procurando coisas para assistir, procurei sobre a obra do Papa João Paulo II e havia ali um artigo sobre uma vez em que o Papa interrompeu um sujeito e pediu para que um indígena continuasse com seus pedidos, suas reclamações, com respeito à sua realidade.
Lembrei-me do trabalho que eu começara a fazer há muito tempo, na pós, e em como isso realmente me pega fundo, assim como a intenção de deixar uma obra relacionada com o tema fé e religião, sob várias formas.