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Vontade de viver

14/08

Este é o meu segundo texto. O primeiro fiz após fala com a Rosa e o Ricardo. Este faço agora, após ver bastante do vídeo que o PT gravou durante o debate da Band. Mandei diversos currículos, e pretendo enviar ainda mais. Assim como pretendo pegar outras oportunidades.

O que eu tenho que comentar aqui é uma espécie de alegria que me advém após experimentar finalmente uma sensação de saúde com os remédios e com a comida, que foi adequada. Como que sinto novamente a mim mesmo vivendo, e isso contrariamente a tudo o que de ruim está acontecendo. Como que as fichas estão caindo, e eu vou percebendo o que é afinal viver novamente.

Um aspecto que assoma é que finalmente compreendo o processo por que passamos a Cris e eu quando nos separamos. Um processo cujas fichas não haviam ainda caído em minha subjetividade, e que me fazem compreender que, se o amor dela havia sido verdadeiro, o desamor dela também. Percebo isso e não mais, pela primeira vez, desde que me separei, penso nela inteiramente de forma simpática. Muito ao contrário, penso nela sem quase qualquer liame pessoal já, percebendo que eu investia em algo que estava morto, e que mesmo eu não sabia o que fazia quando fazia aquilo. Porque ela também nunca foi essa pessoa que eu imaginava. Muito ao contrário, se mostrou uma pessoa fria, distante e cruel. Hoje sei disso e não sinto mais saudade dela, quase. Não inteiramente, quase.

Mas hoje também aconteceu algo estranho. Um senhor, o Arquimedes, estava uma das vezes na sala com a Rosa. Ele estava esperando uma correspondência. Nunca conversei com ele, que deve ter mais de 70 anos de idade, e soube que sua esposa morreu há alguns meses. Vi ele com familiares ou mais alguém algumas vezes, e só. Pois bem. Esperando que a Rosa ficasse livre, vi quando ela lhe entregou uma correspondência do Tribunal de Justiça. Sei bem que isso pode ser uma ação judicial por condomínio. Sei bem que isso pode ser uma ordem de despejo. Sei disso porque passo por isso. Somente isso me deixou preocupado. Mas olhei para ele e ele parecia tranquilo. Mas olhei melhor e vi que isso era falso. Ele estava preocupado, e muito. Vi o senhor pegando o envelope, não o abrindo, tocando-o por fora, e deixando o tempo passar.

Percebi-me na situação dele, mas ao mesmo tempo não. O senhor está quase sem uma das visões, está capengando, mal andando direito, e acompanhei-o com o olhar enquanto ele ia embora. Passou-se o tempo e percebi a mim mesmo em minha situação, com saúde, com disposição, sabendo pensar, sabendo produzir, e com a ajuda da família e dos advogados. Percebi que tenho ainda a vida inteira pela frente. Percebi isso com bastante alegria e quase efusividade. Entendi que no caso dele a situação pode ser absurdamente ruim, dado que ele não tem mais condições para trabalhar. Mas tentei evitar pensar nisso, cheguei em casa e continuei mandando currículos e assistindo vídeos. Percebi que tenho tudo comigo.

É algo estranho, o que acontece. Eu me sinto finalmente dono de mim. Sinto solidão, e sinto que quero ainda algo da vida. Percebo que não quero mais o passado, que talvez nem sinta saudade, e que as coisas que antes me confundiam (o estudo, principalmente), hoje as encaro com maior prontidão, sabendo que posso me virar, sim, de algum jeito. Que não preciso ficar à mercê das circunstâncias. O tempo avança e eu me sinto cavalgando-o. Mas também reparo o quanto preciso melhorar para fazer jus à imagem que tenho, àquilo que sou, e àquilo que quero.


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